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No Vaticano, os opositores do Papa Francisco estão manobrando

Com mais de 11 anos de pontificado, o Papa Francisco é cada vez mais criticado por opositores que intensificam suas acusações, antecipando o próximo fim de seu pontificado.

Do teto, a águia do brasão papal de Pio XI tem vigiado o único tribunal civil do Vaticano por décadas. O julgamento do dia 12 de abril é algo sem precedentes — o acusado é o homem por trás do blog italiano Silere Non Possum (“Não posso permanecer em silêncio” em inglês), que tem proferido insultos e críticas frequentes ao pontificado e aos próximos a Francisco. O caso revela o estado de tensão por trás dos muros da Cidade Leonina, onde algumas fontes dizem à La Croix que “o papa está sendo atacado de todos os lados.”

Onze anos após sua eleição, o Papa Francisco enfrenta uma revolta dispersa, com críticos o acusando de autoritarismo e atacando decisões importantes como a bênção de casais homossexuais, a restrição da liturgia pré-Vaticano II ou a reforma da Cúria Romana. “Alguns esperam pelo próximo papa, outros se perguntam se Francisco ainda possui todas as suas faculdades,” diz um padre residente em Roma.

Colocando um legado “em ordem”

Essas críticas ao papa não são novas, mas aceleraram com a percepção de que o pontificado está chegando ao fim. Francisco está bem ciente da necessidade de colocar seu legado “em ordem”, segundo as palavras de um cardeal, e, assim, nomeou um de seus amigos, o teólogo argentino Cardeal Victor Manuel Fernandez, à frente do Dicastério para a Doutrina da Fé (DDF).

É também por isso que ele se concentra tanto no Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade, cuja segunda assembleia plenária será realizada em Roma em outubro. “Ele vê isso como seu grande legado”, diz uma fonte do Vaticano, referindo-se à missão do sínodo de repensar as relações entre clero e leigos e como as decisões são tomadas na Igreja.

Nesse contexto, um documento assinado por um misterioso e anônimo “Demos II” apareceu no início de março, delineando o retrato do futuro papa: ele deve garantir a unidade da Igreja, não viajar e cuidar da Cúria Romana. O jornal que publicou o documento, La Nuova Bussola Quotidiana, apresentou o texto como escrito por um cardeal – uma afirmação, no entanto, impossível de verificar, já que ninguém reivindicou a autoria. O documento falava notavelmente contra a natureza prejudicial não apenas do autoritarismo, mas de qualquer aspiração democrática na Igreja, e exigia clareza doutrinária enquanto priorizava uma Igreja europeia em crise.

“Ainda discutimos sobre o legado do cardeal, mas não vejo ninguém para continuá-lo”

Em março de 2022, outro comunicado anônimo assinado por certo ‘Demos’ causou alvoroço com sua crítica severa a Francisco. Menos de um ano depois, Sandro Magister, o jornalista italiano que o publicou em seu blog, disse que o comunicado havia sido escrito pelo Cardeal George Pell, ex-Arcebispo de Sydney.

Essa revelação veio poucos dias após a morte do cardeal australiano em janeiro de 2023, que ao longo dos anos tinha se distanciado do papa, criticando o espaço dado ao cuidado pastoral e os Sínodos sobre a família e a Amazônia. Hoje, os representantes de Pell afirmam que o cardeal realmente havia sido associado à escrita do comunicado ‘Demos’, mas dentro de um grupo maior.

O ex-Arcebispo de Sydney ainda é visto como uma figura reverenciada em círculos opostos a Francisco – La Croix recentemente relatou que em setembro de 2023, cerca de 20 bispos católicos, incluindo nove cardeais, participaram de uma reunião secreta sobre ideologia de gênero em Praga organizada por um think-tank conservador americano, que também incluiu uma homenagem ao Cardeal Pell.

“Deus pegou esse peão e o removeu do tabuleiro de xadrez.”

“Ainda discutimos sobre o legado do cardeal, mas não vejo ninguém para dar continuidade”, diz um dos ex-membros do séquito do prelado australiano. “A sombra de Pell está em todo lugar, mas ninguém mais tem sua influência”, observa um analista da esfera conservadora da Igreja. “Ele tinha uma mente política. Ninguém mais tem uma rede como ele tinha. Deus pegou esse peão e o removeu do tabuleiro de xadrez.” A missa em sua memória, celebrada em Roma neste janeiro, reuniu vários opositores do papa, como o Cardeal Gerhard Müller.

Apartamento do Cardeal Burke

Naquele dia, outro homem também estava presente na capela da “Domus Australia”, sede da Igreja Católica Australiana em Roma, o Cardeal Raymond Burke. Esse prelado americano também se tornou um símbolo daqueles cardeais que pretendem resistir ao papa. Antes da primeira assembleia do Sínodo em outubro passado, ele considerou que sua abordagem representava um “risco de perder a identidade da Igreja.”

Francisco, mais tarde, em novembro, tomou medidas para que o americano deixasse seu grande apartamento romano localizado a poucos passos do Vaticano – não privando-o dele, mas exigindo o pagamento de um aluguel de acordo com o preço de mercado estimado de Roma: 8.000 euros (US$ 8.520) por mês. Esse é um valor muito alto, mesmo para um cardeal da Cúria, cujo salário é de 4.500 euros por mês. Mas, diante da exigência do papa, o cardeal, segundo fontes da La Croix, recorreu a apoiadores financeiros que garantiram o pagamento de seu apartamento.

Essas diversas críticas ao atual pontificado recentemente receberam uma resposta franca de um dos mais próximos associados de Francisco. Em 8 de abril, ao apresentar a declaração do DDF sobre a dignidade humana, Dignitas Infinita, o Cardeal Victor Manuel Fernandez fez uma forte defesa de seu compatriota. “Gostaria de aproveitar esta oportunidade para esclarecer uma coisa”, disse ele. “Algumas pessoas que, há alguns anos, quase adoravam o papa, agora dizem que só se deve ouvir o papa quando ele fala ex cathedra, quando se trata de um dogma de fé ou uma declaração definitiva.”

Em outras palavras: a adesão ao papa não pode ser limitada aos atos mais solenes do magistério. Ele também acrescentou: “Acreditamos que o papa também tem a assistência do Espírito para guiar a Igreja.” Fernandez, assim, deu uma resposta incisiva aos críticos e afirmou que, esteja ou não o fim do pontificado se aproximando, o papa continua sendo o papa.

Com conteúdo de la croix internacional

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